
A resistência sexual, que se manifesta como repulsa, medo, aversão ao ato sexual ou recusa constante a qualquer forma de intimidade erótica, é um assunto pouco discutido, porém capaz de impactar a vida afetiva e emocional de muitas pessoas no Brasil, incluindo a região Norte.
No Brasil, o estudo “Brazilian Sexual Life Study” revelou que aspectos como depressão, estado de saúde e grau de escolaridade estão associados a queixas de diminuição do desejo sexual em mulheres (aproximadamente 26,7%).
Pesquisas recentes, tanto nacionais quanto internacionais, apontam que há pessoas que não apenas experimentam um baixo desejo sexual, mas também sentem aversão ativa ao sexo, acompanhada de sensações de desconforto, rejeição ou angústia em relação à ideia de contato íntimo.
Apesar de o diagnóstico formal de sexual aversion disorder (aversão sexual) ter sido removido do DSM-5 devido à ausência de evidências científicas sólidas, a ideia continua sendo útil para entender casos extremos de aversão ao ato sexual. O transtorno era frequentemente caracterizado como uma “aversão persistente ou recorrente a quase todo contato genital com parceiro, causando sofrimento significativo”.
No Brasil, ainda não existem levantamentos populacionais de grande escala que tratem especificamente da aversão sexual. Pesquisas nacionais com amostragem populacional costumam abordar outros aspectos da saúde sexual, como iniciação precoce, comportamentos de risco, violência sexual ou disfunções ligadas à perda de desejo, mas não distinguem a aversão como diagnóstico clínico. Isso contrasta com estudos internacionais, como no Canadá, Japão, Holanda e na Noruega, que já estimaram prevalência e analisaram fatores associados ao problema em populações amplas.
A reportagem da Rede Onda Digital obteve entrevistas com especialistas de Manaus sobre o tema da rejeição ao sexo.

De acordo com a psicóloga comportamental Marcilene Abreu, a resistência sexual pode se apresentar em várias formas, desde a falta de desejo até reações mais severas, como ansiedade, náuseas ou até pânico ao pensar em ter contato íntimo. Ela esclarece que traumas anteriores, falta de autoestima, depressão e ansiedade são alguns dos principais gatilhos psicológicos. Ademais, condições de saúde que causam dor durante o ato sexual também podem levar à aversão.
“Muitas vezes não é falta de vontade; é que a pessoa foi condicionada a ter medo, culpa ou conflito profundo em torno da sexualidade. Há casos em que o corpo passa a rejeitar a aproximação erótica.”
Marcilene ressalta que o tratamento precisa ser personalizado, podendo incluir terapia sexual, psicoterapia voltada para traumas, terapia cognitivo-comportamental e, quando há causas físicas, acompanhamento médico.
“A educação sexual e a reconceituação positiva do sexo são essenciais para que o indivíduo recupere confiança e independência em suas relações”, declara.

Sebastião Francisco Nascimento, psicólogo e filósofo especializado em Sexualidade Humana pela Faculdade de Medicina da USP, afirma que, em muitos casos, o medo ou aversão ao sexo tem origem psicológica.
“São vários os motivos que levam algumas pessoas a ter repulsa, medo ou pavor de sexo. Muitas vezes, esse bloqueio nasce de experiências traumáticas, mas também pode estar ligado a crenças rígidas ou repressão cultural”, explica.
Ele enfatiza que a questão não deve ser abordada com preconceito ou tabu, mas com acolhimento e orientação profissional.
“A dificuldade em manter relacionamentos íntimos, o sentimento de solidão e até mesmo efeitos na autoestima são consequências frequentes. O primeiro passo é entender que existe tratamento e que procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem”, acrescenta Sebastião.
Na prática, pessoas que sofrem dessa condição podem evitar qualquer forma de contato íntimo, prejudicando suas relações afetivas e sua saúde emocional. Em certas situações, a aversão afeta até a vida social, causando a sensação de ser “diferente” ou inadequado.
Efeitos e cuidados
A resistência sexual pode afetar significativamente a qualidade de vida, levando a problemas nos relacionamentos, isolamento emocional, sensação de inadequação e até mesmo a condições comórbidas, como ansiedade ou depressão. A literatura indica que a aversão pode se manifestar não só pela ausência de desejo, mas também por respostas emocionais fortes, como repulsa, náusea, pânico ou ansiedade ao ser exposto a estímulos sexuais.
Tratamentos eficazes geralmente integram terapia psicológica (como psicoterapia, terapia sexual e dessensibilização gradual) ao suporte psiquiátrico, se necessário. Existem também modelos de abordagem que utilizam técnicas comportamentais de exposição gradual a estímulos sexuais, com suporte profissional.
Para aumentar a visibilidade e o apoio, é essencial que os profissionais de saúde mental, educação sexual e mídia regional (principalmente no Norte) deem importância a esse assunto, proporcionando acolhimento e informação, a fim de diminuir os estigmas relacionados às “queixas de sexo” silenciosas.