O excesso de notificações e a sensação de estar sempre “ligado” têm levado muitos profissionais a adotar pequenas pausas diárias longe do celular. A proposta, conhecida como “jejum digital”, consiste em ficar de uma a duas horas desconectado para reduzir o estresse, recuperar o foco e melhorar o bem-estar.
Dados recentes reforçam esse movimento. O Brasil segue entre os países que mais passam tempo no celular, e grande parte desse uso ocorre justamente nos momentos destinados ao descanso. Uma pesquisa da Página 3 mostrou que 35% dos brasileiros acreditam que relaxar significa mexer no aparelho, enquanto 40% afirmam sentir tédio, culpa ou ansiedade após fazer isso. Entre os que conseguem se desconectar, o ócio é associado à tranquilidade mas esse grupo ainda é minoria, apenas 56% relacionam o tempo livre ao relaxamento.
Outro estudo, realizado pela Orbit Data Science, indica que cresce a percepção de que menos tela melhora a qualidade de vida. Cerca de 10% dos relatos analisados destacam a necessidade de se afastar do celular para estar mais presente mesmo que mais de 60% admitam que a rotina cheia impede esse tipo de pausa.
Para o jornalista Igor Kalee, que adotou a estratégia, o impacto foi direto. Ele percebeu que o celular estava dominando seu tempo.
“Qualquer notificação já fazia eu parar tudo, e isso estava atrapalhando meu foco, meu trabalho e até minha paz”, conta.
Quando decidiu desligar as notificações, afirma que voltou a “respirar”.
“Minha cabeça ficou mais leve, a ansiedade diminuiu e meu foco aumentou muito. Parei de sentir aquela necessidade de checar o celular o tempo todo. Fiquei mais presente e até mais disposto no dia a dia”.

Ele admite que o começo foi difícil. “a gente tá tão acostumado a olhar o celular automaticamente que parece que a mão vai sozinha”, mas diz que com o tempo isso virou parte da rotina.
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Especialistas em psicologia já alertam para os riscos da hiperconexão digital. Segundo o psicólogo José Humberto da Silva Filho, o chamado burnout digital surge justamente desse ciclo de notificações constantes, expectativas de resposta imediata e sobrecarga mental. Para ele, o alívio vem quando há pausas estruturadas, limites claros e reorganização no uso das telas por exemplo, agrupar notificações em horários fixos ou ativar o modo “não perturbe”.
Estudos internacionais reforçam essa visão. A integrative‑psych explica que cada notificação ativa o sistema de recompensa do cérebro (dopamina), reforçando um comportamento dependente, enquanto a exposição crônica a esses estímulos pode aumentar hormônios do estresse como o cortisol e gerar fadiga atencional.
Além disso, pesquisas de outras fontes apontam que interrupções frequentes mesmo muito breves fragmentam a atenção, prejudicam a memória de trabalho e esgotam a capacidade cognitiva.

Em ambientes de trabalho remoto ou híbrido, o problema pode ser ainda maior. Um estudo publicado por Schmitt, Breuer e Wulf mostrou que a sobrecarga cognitiva gerada por ferramentas digitais e notificações constantes está associada à piora do bem-estar, e que medidas de detox digital ajudam a moderar esse efeito.
Para especialistas em bem-estar, a solução pode estar em ações práticas, desligar notificações por períodos definidos, criar janelas sem tela e estabelecer “Shabat Digital” ajuda a restaurar a calma, reduzir a ansiedade e recuperar o controle.
A recomendação para quem quer tentar, experimente limitar momentos de conectividade, usar o modo foco ou “não perturbe” e dedicar parte do dia a atividades livres de tecnologia. Não se trata de rejeitar a tecnologia mas de usá-la com mais consciência e equilíbrio, para evitar o esgotamento mental que vem do excesso de estímulos.