Home Tecnologia Supercomputadores de IA na Amazônia: como a floresta entra na rota dos grandes data centers

Supercomputadores de IA na Amazônia: como a floresta entra na rota dos grandes data centers

0

A Amazônia, que sempre foi vista como o “pulmão do mundo” e reserva de biodiversidade, almeja ocupar um novo lugar no mapa tecnológico do país: o de polo estratégico para supercomputadores de inteligência artificial e grandes data centers.

A região está entre as prioridades do governo federal para receber parte da nova infraestrutura nacional de IA, formada por centros de dados alimentados por energia renovável e conectados ao supercomputador Santos Dumont, em Petrópolis (RJ), hoje o mais poderoso da América Latina dedicado à pesquisa científica.

Mais do que potência de processamento, o plano junta três agendas para o Brasil: soberania de dados, transição energética e desenvolvimento da Amazônia.

Energia limpa como “ímã” de data centers

No programa Bom Dia, Ministra, da EBC, em agosto de 2024, a ministra de Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, explicou que a escolha dos locais não será aleatória: a prioridade é instalar data centers onde já exista geração de energia renovável, reduzindo custo e impacto ambiental.

Segundo ela, quem produz energia de forma mais sustentável terá mais competitividade para receber esses centros, justamente porque não será necessário puxar longas linhas de transmissão para aproveitar a matriz energética local.

“Onde se produz essa energia de maneira mais sustentável é onde vai ter uma competitividade maior pra ter o datacenter. Por que?  Porque você não vai precisar da linha de transmissão pra aproveitar aquela matriz energética. Por aí que nós vamos caminhar, com transferência tecnológica, cooperação internacional, pra poder garantir que a gente atinja essa autonomia e a Amazônia tá dentro desse contexto”.

Na prática, isso coloca a Amazônia em posição estratégica: a região concentra grandes usinas hidrelétricas e projetos em renováveis, ao mesmo tempo em que a agenda climática pressiona por investimentos que gerem emprego e renda com baixa emissão de carbono.

A voz política da Amazônia: Eduardo Braga e a disputa global pelos data centers

No campo político, a pauta dos data centers também já entrou no discurso de lideranças do Amazonas. Em publicação nas redes sociais, o senador Eduardo Braga (MDB AM) resumiu o momento como uma corrida mundial por infraestrutura digital:

“Eu não tô tomando porrada à toa, eu tô tomando porrada porque eu tô tentando trazer para o meu estado a indústria de data center. Você sabe qual é a maior disputa econômica hoje no mundo? É a transição para a indústria de data center. Vai ser exatamente o comando de todo o sistema de banking do mundo e todo o sistema de transmissão e informação de dados. Quem monopolizar isso terá a transição para a indústria 5.0. Sabe o que faz o principal insumo da indústria de data center? Energia. Os nordestinos querem levar para o Ceará, para a ZPE do Ceará. Os paulistas querem levar para São Paulo e eu quero trazer para o meu Amazonas. E o meu Amazonas tem energia, tem posição estratégica e pode monopolizar essa nova indústria no Norte do Brasil.”

A fala alinha o debate amazônico com a agenda nacional: se os data centers são o “coração” da nova economia, a Amazônia, com energia limpa, posição estratégica e Zona Franca, passa a disputar não só fábricas e galpões, mas também o cérebro da infraestrutura digital, onde são processados e armazenados os dados que alimentam a inteligência artificial.

Ao defender esse protagonismo, Braga reforça a ideia de que a região não pode ficar apenas como fornecedora de energia e matéria prima, mas deve abrigar também os equipamentos de ponta e os empregos qualificados ligados à IA e à computação de alto desempenho.

Entrevista para jornalista Any Magareth em 9 de novembro de 2025.(Foto: Reprodução/Facebook)

Uma rede nacional de supercomputação com “pé” na floresta

Os novos data centers vão funcionar como suporte e extensão do supercomputador Santos Dumont, instalado no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), em Petrópolis.

O equipamento passou por uma grande atualização em 2025 e passou a operar com cerca de 18,85 petaflops, um salto expressivo em relação à capacidade original de 2015, reposicionando o Santos Dumont como o supercomputador mais potente da América Latina dedicado à pesquisa científica.

Essa modernização faz parte do Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que estrutura eixos como infraestrutura, desenvolvimento e soberania tecnológica, com investimentos para fortalecer a capacidade de IA do país, inclusive com novos data centers nacionais.

 

Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil

 

Amazônia digital com foco em soberania de dados

A discussão sobre onde instalar supercomputadores também passa por uma preocupação central: quem controla os dados. O PBIA foi desenhado para reduzir a dependência total de grandes plataformas estrangeiras, prevendo infraestrutura própria, centros de dados no território nacional e governança de IA com foco em direitos e transparência.

Ao levar data centers de alta capacidade para regiões como a Amazônia, o governo tenta combinar dois objetivos:

Formação de talentos: os “hackers do bem” da nova infraestrutura

Todo esse poder de processamento exige mais do que máquinas: precisa de gente qualificada para operar, proteger e inovar.

Por isso, outro eixo citado pela ministra Luciana Santos é a segurança cibernética. O programa “Hackers do Bem”, do MCTI, foi lançado para formar dezenas de milhares de profissionais em segurança da informação, redes, computação em nuvem e resposta a incidentes, com cursos gratuitos e foco em aplicações práticas.

A ideia é criar um grande grupo de especialistas em cibersegurança, capazes de proteger infraestruturas críticas, como os futuros data centers de IA, redes de pesquisa e sistemas públicos, inclusive na Amazônia, que tende a receber parte desses equipamentos.

Foto: Divulgação

Orçamento

Apesar do discurso de expansão, o MCTI convive com o desafio de contingenciamentos no orçamento federal. A pasta avalia o que pode ser cortado, com a orientação de preservar projetos em andamento, como a ampliação do Santos Dumont, o PBIA e programas de formação, e, se necessário, adiar iniciativas de prazo mais longo.

Na prática, isso significa disputar espaço no orçamento enquanto tenta manter, ao mesmo tempo, a agenda de supercomputadores, formação de pessoal, programas como Hackers do Bem e ações estruturantes do PBIA.