Home Política Conselho de Meio Ambiente atende MPF-AM e proíbe o uso de mercúrio em garimpos do Amazonas

Conselho de Meio Ambiente atende MPF-AM e proíbe o uso de mercúrio em garimpos do Amazonas

0
Conselho de Meio Ambiente atende MPF-AM e proíbe o uso de mercúrio em garimpos do Amazonas
(Foto: Divulgação/PF)

Em meio a pressão da bancada do Amazonas contra a Operação Boiúna, da Polícia Federal, que destruiu com bombas mais de 200 dragas para garimpo de ouro no rio Madeira, nos municípios de Manicoré e Humaitá, o Conselho Estadual do Meio Ambiente no Amazonas (Cemaam) atendeu recomendação do Ministério Público Federal (MPF-AM) e revogou duas normas estaduais que autorizavam o uso de mercúrio na atividade de exploração de ouro no Amazonas.

A recomendação foi resultado de um inquérito civil, instaurado para apurar os impactos ambientais e à saúde decorrentes do uso do mercúrio na mineração e para verificar a compatibilidade dos atos normativos estaduais com as obrigações previstas na Convenção de Minamata sobre Mercúrio.

O procurador da República responsável pelo caso, André Luiz Porreca Ferreira Cunha, destacou a importância da decisão tomada pelo Conselho de Meio Ambiente.

“Com a revogação das normas que autorizavam o uso de mercúrio nos garimpos, o estado do Amazonas se ajusta à Convenção de Minamata sobre Mercúrio e, com isso, contribui de forma significativa para a proteção do meio ambiente e da saúde das pessoas que vivem no estado. Este caso é um marco importante e poderá servir de paradigma para outros estados da federação que ainda possuem legislações omissas ou permissivas em relação ao uso de mercúrio na mineração de ouro”, afirmou.


Saiba mais:

Indefinição do MDIC paralisa produção de ar condicionado no Polo Industrial de Manaus

Carolina Reaper: a pimenta mais ardida do mundo agora é cultivada no Rio Preto da Eva


Recomendação do MPF encaminhada a Wilson Lima

A recomendação para revogação das normas que permitiram o uso de mercúrio no Estado foi endereçada diretamente ao governador Wilson Lima (União Brasil), que repassou a questão à Casa Civil, à Procuradoria-Geral do Estado (PGE) e ao próprio Cemaam para manifestação. Os três órgãos concordaram com os argumentos do MPF e o Cemaam decidiu, por unanimidade entre seus conselheiros presentes, revogar as resoluções.

Segundo o MPF, a revogação tem como objetivo proteger o meio ambiente ecologicamente equilibrado e a saúde da população, diante da comprovada contaminação por mercúrio associada à atividade garimpeira.

Contaminação e impactos do uso do mercúrio

No curso do inquérito, o MPF reuniu diversos estudos e laudos técnicos que comprovaram os danos causados pelo uso da substância, especialmente em áreas de garimpo na Amazônia. Laudos da Polícia Federal confirmaram a contaminação de água, de sedimentos e de populações ribeirinhas do Rio Madeira, cujas amostras de cabelo apresentaram níveis de mercúrio superiores aos limites estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

Estudos conduzidos pela Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), em parceria com outras instituições como o Instituto Socioambiental (ISA), Greenpeace e World Wide Fund For Nature (WWN), também revelaram que 22,5% dos peixes analisados no estado apresentaram concentração do metal acima do nível permitido. Crianças de 2 a 4 anos foram identificadas entre os grupos mais vulneráveis, com ingestão até 21 vezes superior ao limite seguro estabelecido pela U.S. Environmental Protection Agency (EPA).

Incompatibilidade com as normas federativas

A recomendação expedida pelo MPF foi fundamentada na incompatibilidade das normas estaduais com a Constituição Federal e com os princípios do direito ambiental. O MPF reforçou a obrigação de eliminação total do uso de mercúrio, conforme previsto na Convenção de Minamata sobre Mercúrio, da qual o Brasil é signatário. A convenção, que possui status de lei, impõe aos países membros a adoção de medidas para reduzir e, quando viável, eliminar o uso da substância química na mineração artesanal e em pequena escala de ouro.

As normas estatais revogadas contrariavam o modelo federal de proteção ambiental e os compromissos internacionais assumidos pelo Brasil.

Além da revogação das normas, o Cemaam recomendou a criação de uma Câmara Técnica Temporária para a elaboração de uma nova resolução mais adequada, com parâmetros tecnológicos que contemplem a legislação vigente e busquem a substituição do mercúrio.

O MPF acompanhará as medidas adotadas pelo estado. Em caso de descumprimento ou falha nas novas regulamentações, poderá ser ajuizada uma ação civil pública para obter a proibição completa do uso e da circulação de mercúrio para mineração no Amazonas