
O senador Plínio Valério (PSDB) e a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), presidente da Comissão de Direitos Humanos do Senado, classificaram, nessa sexta-feira (26), de inadmissíveis as violações de direitos civis e humanos cometidas durante a execução da Operação Boiúna, da Polícia Federal, realizada entre 15 e 24 deste mês para combater garimpo ilegal de ouro e narcotráfico.
O que mais chocou os senadores foi o relato de moradores de Manicoré sobre a operação ter acontecido poucas horas antes da procissão em honra da padroeira da cidade, Nossa Senhora das Dores, o que assustou os fiéis e crianças que iam participar do evento, uma vez que os agentes federais usaram bombas para explodir as balsas e helicópteros para dispersar a multidão que foi para a beira-rio para ver a situação de destruição.
“As explosões aconteceram muito próximas, na beira do rio, da igreja, onde aconteceria uma festa religiosa. Quando explodiram, tinha gente que dormia lá. Entendem porque as crianças estão com medo? Precisando de terapia? Não tem lógica, não dá para explicar o que foi essa operação policial”, relatou Damares Alves.
Confira a fala da senadora:
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Relatório para apresentar ao Senado
A visita dos senadores a Humaitá e Manicoré foi marcada pela presença de políticos e pessoas atingidas pelas ações da Polícia Federal. Nas duas cidades foram realizados encontros com vereadores nas Câmaras Municipais e os respectivos prefeitos. Eles também aproveitaram para ter contato com a população e gravar vídeos nas duas orlas onde estão afundadas as balsas/dragas explodidas durante a operação Boiúna.
“Foram encontros muito produtivos com centenas de pessoas atingidas e vamos colocar no relatório que aqui foram cometidas todo tipo de atrocidade”, afirma Plínio Valério.
Ele e Damares afirmam que os agentes, fortemente armados e contando com apoio de helicópteros, violaram direitos civis e direitos humanos contra crianças, mulheres e idosos, que até hoje estão assustados com a violência empregada nos dois municípios.
“Houve ainda impedimento de prática religiosa, pois era o dia da procissão de Nossa Senhora das Dores, bem como crimes ambientais, com a fumaça e poluição dos rios, pois deixaram tudo jogado no fundo do Madeira”, conclui Plínio Valério.

Ele também afirmou que o objetivo final é fazer um relatório robusto para ser apresentado ao Senado, comunidade internacional e autoridades para que, num primeiro momento, as operações do tipo sejam suspensas e no final o Senado possa regulamentar em lei os direito, que está na Constituição, que é o de poder fazer o extrativismo mineral.
Veja a entrevista de Plínio Valério:
A Polícia Federal divulgou, nesta semana, um balanço e defendeu as ações empreendidas no rio Madeira, que culminaram na destruição de 277 dragas e causou um impacto financeiro de mais de R$ 1,08 bilhão ao garimpo ilegal na região.
A PF também destacou que a operação foi autorizada pela Justiça Federal e foi coordenada pelo novo Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia (CCPI), inaugurado há duas semanas, em Manaus, pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT).
Em outro ponto do balanço da operação, a PF destaca que um levantamento do Greenpeace Brasil identificou mais de 500 balsas de garimpo ilegal operando no Rio Madeira, inclusive em áreas próximas a unidades de conservação e terras indígenas, reforçando a necessidade de ações contínuas de enfrentamento ao avanço da atividade criminosa.
Para Plínio Valério essa participação do Greenpeace é a mostra de que interesses internacionais estão por trás da realização da operação e da violência contra os ribeirinhos que fazem o extrativismo artesanal de ouro na região.