O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), está estrategicamente jogando parado no duelo da eleição presidencial de 2026 ao dizer que não é candidato e preferir disputar a reeleição. A postura é boa porque não queima a largada, portanto, não fica exposto prematuramente à artilharia dos adversários, e também não fere os interesses da família Bolsonaro, que batalha pela anistia do ex-presidente para assim colocá-lo na briga contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Um bolsonarista de Manaus, com acesso à família Bolsonaro, garante “em off” que o nome do governador paulista é considerado moderado e centrista demais, tendo inclusive relações com o inimigo público número um de Jair, o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, que indicou o chefe do Ministério Público de São Paulo, Paulo Sérgio de Oliveira e Costa, nomeado por Tarcísio em 2024.
Paulo Sérgio e Moraes foram contemporâneos no MPSP, onde o ministro trabalhou como promotor de Justiça por onze anos. Paulo Sérgio, inclusive, foi um dos que criticaram o governo Donald Trump por impor sanções da Lei Magnitsky ao ministro e à esposa dele.
Já nos bastidores da política nacional, contudo, Tarcísio vai colhendo apoios e fortalecendo uma rede de alianças que abrange partidos governistas, como o PSD, e o chamado Centrão, aí incluídos o partido dele, o Republicanos, o PP e até o PSDB.
Nos meios empresariais, Tarcísio terá o apoio, por exemplo, do sistema financeiro e da poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que é comandada por Josué Gomes da Silva, fiho do ex-vice-presidente de Lula, José Alencar Gomes da Silva, e próximo ao PT, sobretudo ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Josué Gomes deixa a presidência da Fiesp em dezembro e será sucedido por Paulo Skaf, um dos principais adversários dos petistas em São Paulo. Foi Skaf quem comprou um gigantesco pato amarelo que enfeitava a fachada da Fiesp nos movimentos que culminaram com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Chefão do PSD, Gilberto Kassab integra o secretariado do governo de São Paulo desde o primeiro dia da gestão Tarcísio, embora mantenha uma parte do partido dentro do governo Lula, aí incluído o senador pelo Amazonas Omar Aziz.
Kassab é visto em São Paulo como o cérebro por trás de projetos do governador que são irrigados por verbas de Brasília, como é o caso do túnel que vai ligar os municípios de Guarujá e Santos, uma obra de R$ 6 bilhões, 80% bancada com verbas do Ministério dos Transportes.
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Governador tem boa imagem no Amazonas
Apesar de governar um Estado que, periodicamente, atenta contra os interesses do principal modelo de desenvolvimento do Amazonas, o Polo Industrial de Manaus, Tarcísio de Freitas tem boa imagem entre os principais políticos bolsonaristas do Estado.
Compadre e, durante muito tempo, a principal voz de Jair Bolsonaro no Amazonas, o coronel Alfredo Menezes avalia que Tarcísio é um político muito bem preparado, um oficial do Exército com longo histórico de serviços prestados, inclusive na gestão de Dilma Rousseff.
O vereador Coronel Rosses (PL) também compartilha a boa imagem de Tarcísio, tido por ele como um quadro preparado e um eventual substituto no caso de Jair Bolsonaro não conseguir a anista e assim disputar a eleição de 2026.
Com o cerco de apoiadores se formando, a única dúvida sobre a candidatura presidencial de Tarcísio reside no papel da família Bolsonaro. O vereador Carlos, o 02, e o deputado federal Eduardo, o 03, atiram pesado periodicamente contra ele, inclusive com ofensas à honra do governador. O senador Flávio, o 01, ao contrário, opta por uma composição e sempre que pode aparece ao lado de Tarcísio de Freitas.
O próprio Jair Bolsonaro já impôs condições insustentáveis para o governador, como a de sair do Republicanos e disputar a eleição pelo PL, partido presidido por Valdemar da Costa Neto, um político em quem Tarcísio não confia.
A treta entre os dois vem desde o primeiro ano da gestão de Dilma Rousseff, quando ela ficou conhecida como “faxineira” por expurgar de cargos do governo apadrinhados de Valdemar no Ministério dos Transportes, que era comandado por Alfredo Nascimento.
Um dos escalados por Dilma para “limpar” a Valec, uma empresa estatal ligada ao MT dominada por Valdemar, foi justamente Tarcísio de Freitas, que contrariou diversos interesses do hoje presidente do PL.